Por que reformamos pneus?
COROLÁRIO: De acordo com o dicionário Michaelis, substantivo masculino derivado do latim corollariu: 1. Afirmação deduzida de uma verdade já demonstrada. 2. Consequência. 3. Na matemática: Teorema que se deduz com muita facilidade de outro precedente.
E que relação tem isso com o título desse texto? Calma, que eu já explico.
Para o propósito do que virá a seguir, a melhor definição é a segunda: consequência. Quando pergunto qual o motivo de se reformar pneus, as respostas são sempre as mesmas:
➢ Porque é mais barato que comprar um pneu novo.
➢ Consome menos matéria-prima e energia do que na fabricação de um pneu novo.
➢ Porque o pneu é reciclável.
➢ Porque é ecologicamente correto.
Ou alguma outra variação dessas mesmas respostas.
Todas elas são, sem exceção, corolários ou consequências. A verdadeira razão de se reformar pneus é porque eles existem. Estranho? Pode ser, mas é necessário entender o que está envolvido nessa história.
“Para que um pneu seja reformado, é preciso que ele não apenas exista, mas que tenha condições de ser reformado, que a carcaça seja aproveitável.“
Pércio Schneider
Especialista em pneus
Nenhum reformador consegue fazer o milagre de transformar algo imprestável em um pneu que ofereça a segurança necessária e adequada após a reforma. E é aqui que entra a participação e a responsabilidade de quem utiliza o pneu.
Se não tomar os devidos cuidados desde a compra e durante o uso, nenhuma das “respostas” acima será válida ou viável. É preciso entregar ao reformador um pneu cuja carcaça ofereça condições de ser reformada para que, após o processo, ele volte a rodar com todas as condições de segurança e usabilidade.
É claro que existem outras implicações. Se um pneu reformado custasse o mesmo que um pneu novo, seria compreensível que o transportador optasse por comprar somente pneus novos em vez de reformar. Contudo, além da diferença de preço a favor do reformado, há outro aspecto que pouca atenção recebe: a relação entre o desempenho e o preço pago.
Como exercício para melhor entendimento, digamos que um pneu de carga novo custe R$ 2.500, e se consiga um desempenho de 80 mil km rodados, e que uma reforma desse mesmo pneu custe em torno de 40% do valor do pneu novo. Se o reformado rodar 32 mil km, terá havido um empate, pois a quilometragem rodada com a reforma equivale aos mesmos 40% do valor.
Mas é sabido que um pneu de primeira reforma pode rodar tanto quanto um pneu novo, e por vezes até mais. Assim sendo, a vantagem de se reformar é dupla. Além de custar menos, em relação preço X desempenho do pneu reformado, é muito mais satisfatória que a mesma relação obtida com um pneu novo.
Já o segundo aspecto, de consumir menos matéria-prima, é uma conclusão óbvia, já que apenas uma parte do pneu é refeita. Somente a banda de rodagem, no caso da recapagem, ou um pouco além disso, no caso da recauchutagem e da remoldagem. Em qualquer que seja o método de reforma empregado, a carcaça permanece a mesma, com sua estrutura, cintas e talões.
Preservar a natureza? De certa forma, eu diria que a frase correta é não agredir a natureza, ao evitar o descarte de algo que se estima que demore cinco séculos para ser dissolvido.
Ser reciclável? Depende de como se entende que seja o processo. No meu entendimento, no processo de reforma, o pneu, ou mais propriamente, a carcaça, não é reciclada, mas sim reutilizada. A reforma implica em remover uma parte inutilizável – a banda de rodagem – e, sobre a carcaça que restou, aplicar uma nova banda. Desta forma, a carcaça é reutilizada e o que foi removido é descartado, pois não é empregado novamente no processo.
Reciclar é o que se faz com metais, vidro e plásticos, que são triturados, fundidos e se tornam novamente matéria-prima para a fabricação do mesmo produto ou de qualquer outro que seja feito do mesmo material. Contudo, e graças ao apelo ambientalista, hoje em dia considera-se que determinado item é reciclado quando lhe é dada uma nova utilização. Mas o pneu continua tendo a mesma aplicação e utilidade. E é também por essa razão que o considero reutilizável.
Se é ecologicamente correto? Sim, pois devemos evitar gerar lixo ou dejetos tanto quanto possível.
Por fim, e voltando ao início, para que um pneu seja reformado é preciso que se tenha cuidado com ele para que, ao ser entregue ao reformador, seja possível concluir o processo de reforma. Por vezes, é necessário um trabalho um pouco maior, com escareações, enchimento, aplicação de conserto e ajuste de carcaça de modo a adequá-la ao estado ideal para o mais perfeito resultado.
Em outras palavras, o reformador não faz milagres. Para que o trabalho dele ofereça o melhor resultado possível, tudo começa com você, transportador, caminhoneiro ou usuário do pneu. Faça a sua parte da melhor forma possível, para então esperar e exigir o melhor resultado.
Feita a reforma a partir dessas considerações, você poderá efetivamente considerar a substituição do novo pelo reformado pagando um valor menor. Terá a certeza de adquirir um pneu produzido com menos matéria-prima e energia e de ajudar a natureza, usando um produto reciclado em um processo ecologicamente correto.
Viu como tudo isso são consequências? Ou, voltado ao primeiro parágrafo, corolários.
Pércio Schneider
Especialista em pneus – pneus&greco.com.br
Matéria retirada da edição 93 da revista Pneus&Cia.